Òrun Àiyé - que por abrasileiramento da língua Yorubá pode ser escrito como Orum Aiyê - de uma forma simples podemos traduzir do yorubá para Céu e terra. Porém esta tradução simples não carrega a total significância do terno, o Órun é a morada dos orixás centro de toda energia divinatória das religiões de matriz africana. Traduzir Òrun como céu é aceitar o olhar europeu para lugar do divino como
se ele estivesse elevado aos céus tal como a crença cristã.
Òrun é morada do que há de divino, são as energias que movem e dão vida a tudo que existe na natureza no àiyé.
Àiyé é nosso plano de existência, local onde nos entendemos como seres vivos, como pertencentes à natureza e resultado do divino criado no Òrun. Entre o estes dois planos existe muito mais do que orixás e seres terrenos existe uma infinidade de entidades, corpos etéreos tão incontáveis quanto os grãos de areia na praia. Oruns Aiyês, aruandas, wakandas, local do intangível palpável, paradoxo das realidades utópicas que guia nossos sonhos pretos cor da resistência.
Òrun Àiyé é mais do que o céu e terra ou dois locais isolados neste Comos energético, é um resgate de um olhar libertado das teias do colonialismo, é uma leitura de realidade tida a partir do sensível humano que também pode ser habitado pelo divido. Os Deuses Negros estão aqui e agora, habitados nos corpos de nós, herdeiros afro diaspóricos, donos de uma herança africana que se faz resistência em solo brasileiro. O Orum Aiyê - Quilombo Cultural nasce da crença na ancestralidade negra como elo de fortalecimento entre todos nós, rompendo dessa forma com a onisciência dos princípios sociais colonizadores, e se tornando um espaço de aquilombamento, fortalecimento e de expansão dos potenciais criativos, cria-ativos , cria-atividade, cria-ação de novas ligações através da arte do indissociável existir do Òrun Àiyé. Nosso espaço é literalmente apoiado em seis colunas, o seis no jogo de Merindilogun é representado pelo Odu Obará, Odu do progresso, da prosperidade, da concretização de sonhos e a força para conquistá-los, é nessa energia que construimos este quilombo. Cada uma dessas colunas são erguidas com símbolos adinkras representado uma parte das bases filosóficas adotadas nesse quilombo cultural, os Adinkras são símbolos africanos Axantes cujo significado de suas idéias são representadas por meio de provérbios
Nessa encruzilhada de valores e ideologias afro centradas, o Orum Aiyê surge no caminho da resistência, do afro afeto, do sorriso surgido a partir do compartilhar da memória preta e da força que se sente em estarmos todos em estado de Ubuntu - ‘uma pessoa é uma pessoa por meio de outras pessoas’. Nesse compartilhar de práticas e afro afetos, O Orun Aiyê terá como atividades aulas e espetáculos que envolverá linguagens artísticas como Circo, Artes Visuais, capoeira, vivências percussivas como samba de roda e outras linguagens da musicalidade afro-brasileira. Essas linguagens têm como objetivo o desenvolver do sensível humano à sociedade, trabalhar outras formas de sentir a vida e até mesmo se encontrar enquanto profissão, dando o suporte que por muitas vezes quem é negro e pobre na sociedade acaba não encontrando no seu caminhar artístico profissionalmente. Para além de aulas e espetáculos artísticos, esse quilombo visa oferecer um espaço para o desenvolvimento de atividades psicológicas e terapêuticas, todas essas atividades são elaboradas para ter uma maior acessibilidade ao público negro. Se aquilombar é entender o mecanismo que nos faz fortes em uma sociedade que tem suas macro e microestruturas pautadas em um racismo estrutural e velado, o Orun Aiyê Quilombo Cultural surge na busca de nos fortalecermos, físico, espiritualmente, mentalmente, comemorando a memória africana e nos vestindo de uma identidade afro brasileira forjada na luta e na alegria de ser Negro.