13/08/2025
AMAMENTAÇÃO
Nada é comparável ao feito de amparar, cuidar e amamentar um recém-nascido. Ainda que sejamos responsáveis por feitos incríveis antes de sermos mães, permanecer no silêncio e na solidão do puerpério é ímpar. Mesmo que, ao longo da vida, tenhamos gerido equipes de trabalho ou grandes projetos, ao amamentar um bebê, nos deparamos com uma realidade nova, uma versão de nós mesmas que, quiçá, passamos anos evitando. Nesse momento, vital é ter rede que apoie, que ampare e, principalmente, que fomente a ternura e a quietude.
Por mais que estejamos acostumadas a realizar e fazer tantas coisas sozinhas, não fomos desenhadas para isso. Criar filhos é tarefa de tribo. Carlos Gonzalez, autor do conhecido livro “Besame Mucho”, diz que vivemos em cativeiros. Não há mais mulheres livres, que possam seguir seus instintos e amamentar com a fluidez necessária para mãe e bebê. Estamos sozinhas, limitadas, presas. Por isso, duvidamos, tememos, questionamos nossos próprios instintos. Tomamos decisões a partir de livros ou da opinião de especialistas.
Quando o tema do desmame aparece, quase invariavelmente, buscamos aval externo para subsidiar nossa decisão. Saímos à busca da forma mais gentil ou mais respeitosa. E que bom que o fazemos! Mas, antes, seria lindo se pudéssemos nos questionar sobre como nos sentimos ao dar de mamar. Sobre se, de fato, temos algum empecilho real para continuar. Sobre se a nossa rede efetivamente nos apoia ou se, com a melhor das intenções, é quem nos julga, nos critica e/ou nos aconselha.
Antes de buscarmos a forma “mais correta” ou a cartilha mais bem escrita, que possamos nos questionar, pôr em xeque as certezas que talvez nem saibamos de onde vêm. E que abramos as portas aos nossos instintos e às verdades que dão sentido à nossa maternidade. Essa, talvez, seja a forma mais poderosa de nutrir nossa alma e nossos filhos.